Entrada franca!

Entre...pode entrar!!!! Vasculhe tudo!!!!! Se pelo menos durante alguns segundos você parar em algum texto para tentar compreender algo, tentar desvendar o campo semântico de alguma palavra ou até mesmo se emocionar...terei cumprido o meu papel.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Compartilhar palavras

Escrevo não sei pra quê
...não sei o porquê...
Mas escrevo.

As palavras vêm à minha cabeça
São lançadas como telhados...
...como telhados em meio ao furacão.
Vêm...
...como um pote de vidro que acerta o chão
...estilhaços.
Tudo isso sem meu consentimento
Nunca fui de consentir nada...
E elas têm essa necessidade estranha..
...tamanha...
...vital.
Imploram pelo seu registro...
E o registro pra mim...
...o registro pra mim ao mesmo tempo
que empobrece uma ideia...
...ao mesmo tempo que aprisiona a ideia
...ao mesmo tempo a leva para tão longe...
...assim como os pensamentos...
...soltos e aprisionados numa mesma proporção...
...se não compartilhados.

Compartilhar...
..compartilhar é tão necessário...
Não...não o registro...o compartilhar...
Sim...
...as palavras...
...compartilhar as palavras...
...os pensamentos...
Mas sem registro...
...sem fala.

Dê-me tua mão.
Olhos bem fechados.
Corpos inertes.
Almas num parque.
Pensamentos em fevereiro.
Palavras ao vento.

Compartilhar é assim...
...sentir...apenas...
apenas...
...sentir.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Incondicional

Te vejo tão distante, Maria
Distante de ti
de mim
de nossas vidas
cujos anos nem sei mais...

Brincávamos
Sorríamos
Chorávamos...
...juntinhos...
...numa mesma sintonia..
...e muitas vezes em silêncio.
Eu sentia...
...tu sentias...

Hoje toco tua mão...
...teu olhar me estranha
Eu...total estrangeiro para tuas retinas opacas
Sou João, José, um rapaz...
...
.. mas sorrio e beijo tua face..
Tudo tão ínfimo
Dentro de um pretérito-mais-que-perfeito

Teus sentidos não me reconhecem mais
Tua mão toca um corpo qualquer
Tua boca é profana
Teu olhar surrealista
Teus gestos infantes

Ah...
...mas como não te amar
quando chama a João
querendo, na verdade, me chamar?

Maria, como não te amar
Quando me perguntas quem sou?
Sou quem tu chamas, respondo embargado
Você sorri...
E teu sorriso...
...teu sorriso não me enganas...
...nunca.

Como não te amar, Maria?

Serei sempre teu.
Sempre serás minha.
Incondicionalmente minha...
...eterna...
...Maria.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Currículo

O senhor tem Curriculum Vitae?

_ Ocê tá falando estrangero?

Bom...esquece...algumas perguntas...

Estado civil?

_ Maranhão

Casado, solteiro, viúvo, divorciado...

_ ...sô não senhora...nóis juntamo mermo...

Nacionalidade?

_ Qual que é a próxima pregunta?

Filhos?

_ Os vivo é 3...os morto...eita...que inté se esqueci...

Filiação?

_ Só os do vivo tá bão? Ostinho...Creiton...Maria.

Idade?

_ 33

Religião?

_ Vixe que quem protege eu é Santo Expedito...

Endereço?

_ Beco da esperança s/n  lote 666

Bairro?

_ Só mandá que chega...rsrsrsrs

Grau de instrução?

_ ...

O senhor já estudou, frequentou escola?

_ Eita que já levantei várias que só ocê vendo mermo...rsrsrsrsrs

Sexo?

_ Que que isso, moça!!!! Que eu vim cá pra intrevista...e...

O senhor é do sexo masculino ou feminino?

_ Eita que ocê num tá vendo não...sô macho...

CPF e identidade?

_ 33...num já disse...

Vale transporte?

_ 3 de ida e 3 de vorta

Endereço eletrônico?

_ Hã! Só trabaei inté hoje com as construção.

Telefone para contato?

_ Tá sem crédito...serve?


Por gentileza,  peço que o senhor aguarde contato em sua residência. Próximo!!!!!

Ei, Senhor? Seu nome, por favor?

_ Brasil.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dia bom

     Gostava da fumaça que subia e do aroma. Saboreava primeiro com o olfato. Um ritual diário que cumpria sempre ao pôr-do-sol. Para ela, uma maneira poética de dar adeus a mais um dia. Toda ela era pura poesia. Parnasiana. Seu corpo, seu cheiro, suas roupas, seu acordar para a vida todas as manhãs. Olhava-se no espelho e dizia: _ Dia bom! Sentia-se bem durante o dia, principalmente se estivesse nublado com nuvens brincando de Salvador Dalí. Lembrava-se dos seus sonhos. Durante alguns minutos mexia com gestos de um pintor meticuloso o café na xícara. Ficava encantada com o movimento. Depois de frio, num gole só degustava o sabor amargo. Não possuia afeição por  açúcar. O natural era, para ela, uma maneira de respeitar a Deus. Foi criada por uma família cristã e, apesar de nunca ter sido, procurava respeitar tudo o que foi ensinado. Pensava sempre no poder do homem de transformar tudo e a todos e essa era uma maneira de dizer não. Eles sempre invadiam os seus sonhos. Aliás, ele sempre invadia o seu sonho.
     Comprava todos os dias um livro. Escolhia pela capa. Mesmo quando percebia que não era tão interessante a expectativa da próxima página o tornava. Era o seu modo de adormecer. O ritual de ir para a cama, apagar as luzes e cerrar os olhos incomodava. Sentava-se numa poltrona, que ficava de costas para a rua, acendia a luz de um pequeno abajour, pegava uma xícara de café e sua viagem iniciava.
     Chegou à Igreja atrasada cumprindo o protocolo de toda noiva. Ansiedade, naquele momento, o seu nome. Perfeito! Pensou assim que avistou o noivo já no altar. Todos os lugares ocupados. Pessoas em pé. Flores. O padre. Ah! E o canto gregoriano anunciando sua entrada. E para não fugir da regra, o friozinho na barriga. Ensaiou um choro, mas se lembrou da maquiagem. As fotos ficariam ruins. O vestido apertado sufocava um pouco, mas nada tiraria seu meio sorriso. Na verdade, queria era arrancar tudo aquilo, pegar seu noivo e sair correndo pelo mundo afora. Todavia, faltava tão pouco. Tudo já ia terminar. Pensava logo em mergulhar no mar verde dos olhos dele e se afogar. Vestiu a face com o véu e foi em direção à felicidade. Tampava um pouco sua visão aquilo. Apenas vultos na retina. Nada importava. Já ia tudo terminar. Sozinha dava passos largos pelo imenso tapete vermelho. Ficou parada à espera de uma mão levantado o véu. Transpirava. Era o seu momento...único e seu. Não quis mais esperar. Esfregou os olhos. Novamente...novamente...novamente...até que um vento muito forte arrancou o telhado da Igreja e algo que parecia com neve começou a cair sobre seu corpo. Desesperada, olhou ao redor. Noivo, padre, flores...nada e ninguém. O tapete...o lindo tapete que a conduziu até o altar se transformou num mar de sangue e uma imensa onda em sua direção banhou seu corpo. Abriu os olhos e sorriu. Acordava assim todos os dias. Não se importava. Sabia que mais um dia, de muito trabalho esperava por ela.
     Caminhava sempre pela rua beirando a calçada. Era o seu modo de arriscar, desafiar e brincar um pouco com a vida. Assim que virou a terceira rua à esquerda, mirou ao longe uma aglomeração. Sentiu uma leve dor. Algo parecido quando estava naqueles dias. Estranhou. Aquela sensação se perdeu há um bom tempo. Continuou. Apertou o passo. Percebeu que algumas pessoas olhavam-na. Ficou inquieta. E quanto mais se aproximava mais gente passava a observá-la como que a reconhecendo. Quando chegou bem perto todas aquelas pessoas ficaram de frente pra ela e foram abrindo caminho. Olhou o chão. Um caminho vermelho que seguiu com passos leves e curtos. Passou a não mais encarar ninguém. Sentia apenas aqueles olhares. Seu foco...o chão vermelho. O último par, um homem e uma mulher, no meio daquela multidão, abriu passagem. Não teve dúvidas. Aliás, nunca teve tanta certeza. Um homem branco, de braços abertos, olhos de mar apontando o céu. O céu. Era seu desejo maior. Ir ao céu como seu homem. Era ele. É ele, pensou. Tirou o sapato. Não podia chegar ao céu sem primeiro se desnudar. Deitou-se ao lado dele. Beijou sua face. Tocou seu rosto. Uma lágrima brotou dos olhos dela e caiu direto nos lábios dele. O primeiro beijo disfarçado. Afinal, muita gente perto. Sorriu. Olhou o céu. O dia nublado e com nuvens. Sorriu novamente. Olhou em redor. Ninguém mais. Apenas um pedaço de tecido branco. Sempre foi muito friorenta. Cobriu-se. Sabia que ele não gostava de cobertas. Mais um sorriso. Pela primeira vez adormeceria deitada.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Indigente

Nunca fui de sentir ódio
Nunca me afeiçoei a ele
Nunca semente
Aliás, nem criação

Ódio é vida
É manter viva a chama
É saudade
Vaidade
Muitas vezes frustração
Lembrança doída
Câncer generalizado
Amputação
Presença ausente
Brasa
Inverno no verão
Outono na primavera
Gaiola sem pássaro
Limbo
Circo
H2O

Não...
Ódio não...
Antes...
...eu mato.

Indigente.

sábado, 23 de outubro de 2010

Expectativa

Hoje...
recolhi todos os meus barcos
todos atracados num cais
Difícil isso...
Eu que nunca os quero atracados...
...inertes nas ondas do mar...
...mas...
...foi necessário.

Meus barcos...
....sim...barcos...
prefiro os barcos...
Há grandiosidade neles...os barcos...
Por isso difíceis de atracá-los...
...prendê-los...
..são mais livres.

Meus barcos...no cais...
...o regresso é, muitas vezes, dor...
...outras revolta
...também inteligência...
Eles sabem disso...

Estão emparelhados no cais...
...aguardando o sinal
para novas tempestades e descobertas...
...algumas anuviadas
...tantas outras calorosas...

Meus barcos...
...aguardam em silêncio...
...silêncio de teatro
à espera do derradeiro sinal...
...apenas um sinal...
...apenas o sinal...
Só não pode meu coração...
Só não pode meu coração falhar.

Todavia

Não gosto da espera
Nunca fui de esperar...
...nada.
Sempre as abortei
quando tentavam gerar vida.
Nunca vi sentido na espera
Esperar sempre foi sinonímia de morrer
Para mim e em mim a espera não teve...
...nunca...
...morada.
É orfã de pai e de mãe.
É menina de e na rua. 
Angústia.

Todavia...
...hoje...
...............
..............
.............
............
...........
..........
.........
........
.......
......
.....
....
...
..
.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mim

Mudei de mim
e deixei tudo pra trás
amores
dores
rancores
cobertores
que não me aqueciam mais

Mudei de mim!

No banco da praça
procuro o jornal de amanhã
eu quero o amanhã...
mas só o ontem disponível
Olho os classificados
Não há hospedaria para almas
Nada para almas

Mudei de mim!

E agora?
Outrora seria eu mais feliz?
Eu mudei de mim
e nada mudou em mim
nada de mim
nada em mim
nada.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A máquina

Estava ansiosa. Nunca se sentiu assim antes. Não que lembrasse. A frustação já era sua conhecida. Essa sim. Sua epiderme. Já tinha perdido dois filhos, que nem chegaram a nascer, marido, amigos e familiares. Não tinha maneira com a aglutinação ou composição. Parassíntese nem pensar. Seu modo era classe de palavras. Mas nada disso era por mal. Apenas um pleonasmo de uma vida sem vida.
Todavia, naquele dia uma sensação diferente tomou conta de sua alma, que ficou por muito tempo pendurada no cabide de seu armário no último cômodo do apartamento. Algo mexia com ela. Sentia que podia ser tudo diferente. Lembrou-se então do diálogo que teve com o vendedor da loja...ficou arrepiada. Ele confirmou dez vezes o que ela queria saber. E como pagou à vista o vendedor garantiu o prazo de 24 horas.
Andava de um lado para o outro no apartamento. Já tinha interfonado o porteiro milhões de vezes para saber se algum caminhão estava pelas redondezas. O tempo, o qual ela tanto ingnorou por tanto tempo, agora meio que se vingava dela. O tempo, às vezes, é pura vingança.
Cochilou.
A campanhia ao mesmo tempo que a assustou foi o modo de acordá-la um pouco pra vida.
Assinou o papel da entrega. Nervosa, tremia. O olho brilhava. Não via a hora de ficar sozinha.
Era o modelo de máquina de lavar mais novo da loja. A moderninade em forma de máquina. Vários botões cujas funções ela ainda desconhecia. E como desconhecia tanta outras e outras coisas...
Não queria mais esperar.
Leu o manual.
Identificou-se com ele.
Seguiu passo a passo todas as orientações.
Ligou na tomada. Algumas luzes se acenderam, inclusive nela.
Abriu a tampa
Verificou o local onde colocaria o sabão em pó e o amaciante.
Leu e releu várias vezes o tal manual.
Não precisava mais esperar. Dominava já aquele instrumento. Já entendia todo o seu funcionamento. Ficou feliz. Pela vez primeira tinha compreendido alguma coisa.
No tecido optou pela seda.
Na lavagem, pesada.
Nível máximo de água. Morna. Tira mais a sujeira. Ouviu dizer em algum lugar.
Duplo enxágue.
Escolheu centrifugação turbo.
Entrou na máquina nua.
Apertou o botão LIGA.
Depois, não sabia dizer ao certo. Mas deve ter ficado mais ou menos uns cinquenta minutos dentro daquela máquina.
Saiu sequinha.
Esperou alguns minutos.
Na verdade, esperou horas.
Nada...
Nada...
Exatamente nada tinha mudado, percebeu.
Relembrou o diálogo na loja com o vendedor. Ele tinha confirmado que a máquina lavava tudo. Ainda perguntou a ele: "_Tudo mesmo?". E logo após a resposta positiva do vendedor.
No entanto, ainda pesava.
Pensou em ligar para a loja e reclamar com o tal vendedor.
Não tinha força.
Estava cansada.
Pesada.
Olhou a cama.
Se jogou nela.
Cerrou os olhos e ainda tentou um choro.
Mas a máquina não deixou um líquido sequer naquele corpo.
Estava seca.
Sentiu o sono chegar e com ele a esperança.
Esperança de alguma mente humana criar uma máquina só para as almas, que não o corpo. O corpo é frágil.
Esperança, a mais certa, de não acordar.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Estações da alma

Minha alma acordou
hoje
primavera
árcade
com vontade de Pasárgada.

Às vezes...
...outono
O outono é tão necessário...
...realismo...
para as almas.

Quando inverno...
...é tão parnasiana
estrutura sólida
com rimas
todavia
fabricadas.

Há momentos verão...
...e todos os movimentos cabem
interagem
entretanto
há, sim, o predomínio
dadaísta.

As almas são assim
Inconstantes
Essência trans
e quase sempre...
mar.

Minha alma é oceano...
...não tem borda.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fluxo


Nunca gostei do meio
Por isso não uso mesóclise
Tenho muito mais simpatia pela ênclise
Ela, como eu, está sempre à frente de...

Acho o meio um lugar de mal estar,
e quando advérbio é invariável
não muda
sem plural
nem feminino
assim como gente
gente é assim
nunca varia
e quando varia
ou usa de palavras igualitárias
ou é prolixa em seu discurso.

Agora...
...também tem o meio que é metade
E esse varia...
...meias palavras.
Mas sua variante é sempre metade
E eu também não possuo afeição pela metade
Ainda mais...
...se for metade da metade
Gente também é assim...
...metade não sabe o que quer...
...metade acha que sabe.
...e tem uma outra metade próclise.

E tem as sinonímias...
...que não pertencem à estrutura meio:
Morno,
ânsia de vômito...
mas semanticamente...
...são também meio.
Antes, o vômito...
...sou demasiado vômito.

Por isso...
...quando estiver no meio...
Pare!
Olhe o vão central - é meio!
E perceba que o meio também tem seu valor
Aliás, tudo tem seu valor - até gente tem!
Todavia...
...saiba que sair dele é necessário...
...e possível
E nem cogite o mar - ele não atura covardia
O mar é demasiado vida para isso
Apenas saia de cabeça erguida
Só não se esqueça de olhar para os lados e tudo que o circunda
Vai que vem um carro bem no meio de sua vida
Ela - a ponte -
Tem extremos e fluxo -
...assim como EU.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Somos iguais

Somos iguais
O que nos difere é a minha certeza...
...da tua incerteza.

Somos iguais
O que nos difere é o meu querer...
...bem mais egoísta que o teu.

Somos iguais
O que nos difere é o meu passo...
...menos rápido que o teu, mas intenso.

Somos iguais
O que nos difere é o meu tempo - o quando...
...o teu ainda muito ontem.

Somo iguais
O que nos difere é o medo...
...que eu não tenho.

Somos iguais
O que nos difere é o modo de abraçar a vida...
...o meu universal ...o teu - sistema feudal.

Somos iguais
O que nos difere é o cantar...
...o meu Maria Bethânia - o teu Gal Gosta.

Somos iguais
O que nos difere é a folha que cai...e me emociona
...e tua preocupação é com a árvore.

Somos iguais
O que nos difere é o caminho...
...o meu - estrada...o teu - encruzilhada.

Somos iguais
O que nos difere é o orgulho...
...você tem...eu o sou.

Somos iguais
O que nos difere é o teatro...
...o meu - dramático, o teu - pantomina.

Somos iguais
O que nos difere é o verbo...
...o teu - pretérito - presente e futuro...
...o meu - estado latente - criação.

Somos iguais
O que nos difere é o bordado...
...eu sou o avesso dele.

Somo iguais
Porque somos filhos de mãe e pai...
...apenas nisso...
 e nada mais!

domingo, 11 de julho de 2010

Entrevista

Sim...sou egocêntrico
E é por isso que escrevo
E é por isso que você está aqui.

Não...não penso no que escrevo
Apenas escrevo
Inspiração, talvez...

Não...não sei de onde vem
Aliás, sei...mas não digo
Perde o encanto e gosto de encantar.

Não...não insista.

Sim...têm.
Algumas gosto amargo
Outras agridoce
Umas tantas sem
Muitas mel...dessas não gosto
E nem pergunte o porquê...
Terei a sensação de que nunca leu meus textos.

Sim...já recebi várias..
Inspiram-me...
Divertem-me...
Mas nunca me irritam...
Se eu não escrevesse ou ninguém o fizesse...
O que seria deles?
Sou o sustento deles.

Não...
Aborreço-me pouco
Aliás, bem pouco
Ou quase nada.
Mas quando acontece...
...eu fumo.
É o meu modo de incomodar.

De nada.

Retirei o último cigarro do segundo maço
Fui até a sacada
Lancei fumaça no ar
E sorri
Pela vez primeira fui compreendido.

sábado, 10 de julho de 2010

Interessantíssimo


Não peço licença
Nunca
Invado os espaços
Preencho vazios
E sempre deixo perfume no ar.

Não aviso
Não mando recado
Apenas chego
E até com meu silêncio construo sintaxes.

Todos os lugares porque passei
Não são mais os mesmos.

Todas as ruas, avenidas, encruzilhadas
Rendem-se à minha total falta de interesse
E quanto menos demonstro meu interesse
Mais interessante sou
Sou interessantíssimo.

Sempre calo no momento que mais precisam
de minhas palavras.
E gosto dessa sensação de angústia...
...no outro.
Não percebem as frases que produzo com o olhar
Veem, mas não exergam.

Gosto desse jogo...

Meu modo é insinuar
Sou todo insinuação
Até quando escrevo.

Minha melhor e maior metáfora...
...é viver.

O retorno

Ando distante de mim
Não me vejo nos espelhos
Nem me encontro nas esquinas
Elas que tanto me acolheram.

Ando metade de mim
que quer
que deseja
que inflama
que enfeita o pensamento.

A outra metade de mim?
Acho que pediu demissão
Ou eu mesmo mandei embora
sem aviso prévio.
Justa causa.

Metade de mim,
onde quer que esteja
não se perca tanto
nem atrase o relógio
não atenda a chamadas desconhecidas
nem olhe para trás à procura do caminho
pois as pétalas deixadas
a chuva molhou
e ressequidas pelo sol
o vento levou para dentro de um poço sem molas.

Metade de mim,
retorno há,
e é sempre dor de parto natural.
Não darei explicações
Não pedirei explicações
Se voltar e estiver sangrando,
devido à selvageria do asfalto,
não entre pela janela,
nem toque a campanhia,
mas entre bem devagar.
E não sinta vergonha...não...isso não.
E nem orgulho.
Deixe o sangue escorrer...
Todos os curativos serão feitos dentro de sua casa,
que também, confesso eu, sangrou tua ausência.
Misture-os...
E seja feliz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Liberta

Minha alma habita meu corpo
Não pertence a ele
Não há pertencimento
quando se trata de almas
São alojadas em corpos
que muitas vezes não as comportam.

Os corpos, na verdade, são apenas...
...pura arrogância Dele
Ele necessita disso
Mostrar atráves da matéria
sua superioridade
sua criação
seus fantoches.

Por isso
Toda noite
Liberto-a
Morte na carne
Vida no espírito
Deixo-a livre para brincar
Minha alma brinca quando livre
Também só isso que sei
Não a interrogo nunca
Liberade é assim
Confiança
Ela sabe o momento exato do retorno
E confesso...
Atingirei a felicidade plena
Quando ela entender que minha concessão
é uma figura de linguagem
Neste dia
Ela não retornará.

Escândalo

Escandalizo
Minha maneira é essa
Desde o meu nascimento
Quando tentei me conter
No ventre de minha progenitora
Mas ele não me suportava mais
Cuspiu-me
E gargalhei
Foi meu modo de chegar neste desmundo

Gargalho sobretudo por gosto
Pelo gosto do desgosto alheio

E não sei lidar com limites
Sou terceira margem
O segundo sol
Noite quando ainda é dia
Não sou sujeito
Certas vezes predicado
E quase sempre índice de indeterminação

Escandalizo sempre
Nas entradas
Saídas
Permaneço
Sei que permaneço
Não em mim
Mas neles
Nas retinas incontidas do outro

Escandalizo
Escandalizo não pelo que sou
Escandalizo
Mas pelo que o outro deixou de ser.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sem culpa

Sou cretino
Minha cretinice é aguda
Encanta...
Mais do que meus olhos cor de mel
Mais que meu olhar anos 80.

Sou tão cretino...
Que respondo às perguntas não feitas.
E é através delas que alicerço meu discurso
Minha retórica.

Não disfarço
Maquiagem não é minha metáfora preferida.

Confesso que poucas vezes cara lavada
Apesar de gostar dela
Nem sempre a uso
Ocasionalmente, diante de mim mesmo.

Sorrio ou acendo um cigarro
Toda vez que sou cretino
Quando sorrio é um tipo de cretinice sarcástica
Quando cigarro é um tipo desejo.

Acabo fumando sempre pouco
Porque gosto mesmo é de interessar
E jogo com isso
E tudo tão pouco me interessa
E tudo tão pouco me desconcerta
Que fumo pouco
Às vezes, um maço em uma hora
Sim...é pouco pra mim
É pouco para a intensidade de minha cretinice.

Mas não me culpo por isso
E quando sinto
É como carregar comigo
Um oceano dentro de uma peneira

Não...não sinto culpa
Até porque...
Se há culpa
Vem de você
Que se deixa devorar por ela - minha cretinice
Alimentando-a
Alimento líquido.

Se há culpa
Que seja apenas sua
Que esteja com você
Vem de você
Que me olha
Apenas me olha
Mas não me enxerga.

Desafeto

Sou todo verdade
A materialização dela
Sua personificação
Sua concretude
Sua solidez
Seu corpo
Seu chão
Raiz.

Você é que me inventa!

Eu

Eu não caibo nos espaços
Tudo é pouco pra mim
Tudo é pequeno
Estreito
Sufoca.

Vivo de urgências
Quero tudo
Ao mesmo tempo
Agora.

Gosto dos extremos
Urge o amanhã
Na intensidade do hoje.

Meu desejo é substancialmente...
...líquido.

Minha alegria me cansa
Minha tristeza é festa
Meu tempo é sem tempo.

Às vezes verbo de ligação
Tantas outras intransitivo.

Minha natureza é selvagem
Moram dentro de mim vários bichos
Não mostro todos.

Sobrevivo comigo.

Acordo todas as manhãs
E não meu dou bom dia
Aturo o espelho
Ele que invade o meu dia
O meu ser
E me desnuda sem ao menos permissão.

Não concedo
Nem dou permissões
Se quer entrar
Não bata à porta
Não procure fechadura
Nem me chame
Entre
Deixe uma fresta
E me ama.

domingo, 4 de julho de 2010

Saudade

Trago dentro de mim a saudade
Saudade de um tempo ainda vindouro
Saudade de gente desconhecida
Saudade de mim amanhã
Saudade do próximo século.

A saudade que trago dentro de mim não me pertence
Apenas mora comigo
Apenas habita minha alma
Apenas compartilha comigo as minhas aflições.

Tenho saudade daquilo que ainda será projetado
Das crianças que nascerão
Da vida que não é essa.

Tenho saudade do que ainda não vivi
E ao mesmo tempo é tão intenso e presente.

Não sou pretérito
Nem presente
Nem futuro
Sou o tempo de um tempo que ainda germinará de alguma alma
inumana
De alguma alma tão inquieta quanto a minha
que deseja aquilo que ainda não tem vida
que ainda não foi criado.

Minha alma deseja o tempo
assim como eu desejo tê-la em todo e qualquer tempo.
Desejo-a...
...com desejo saudoso do tempo que iremos nos encontrar.

Não importa, minha alma,
o corpo,
a cor dos olhos,
ser macho,
ser fêmea.
Olharei-a através do espelho e reconhecerei...
...reconhecerei tua inquietude...
tua luz
teu cheiro
tua alegria
e a saudade findará
pois reconhecerei em você a vida que eu esperava
que me faltava.
Reconhecerei o meu tempo.

Espelho

Gosto de ti
Gosto de ti assim
sempre parecendo aquilo que não é,
escondendo-se através de seu olhar mármore,
mostrando-se entre gestos largos e obscenos.
És obsceno...
Tua natureza é obscena.

Admiro tua presença ausência,
tua alegria triste
tua arrogância quando chegas a todos os lugares,
teu incômodo perante a vida, ou do que se faz dela,
tua beleza escancarada,
teus colares egocêntricos,
teu sorriso escandaloso.
Escadalizas, sabia?

Amo tua vida morte,
teus jogos semânticos.

És...
hipérbole,
hipérbato,
sinestesia,
paradoxo,
barroco.

Desejo-te...
...e o meu desejo é ora árcade...
...ora clariciano.

Espero-te todas as noites...
Regressas sempre...
...a noite.
Deitas em tua cama,
Descansas teu corpo fatigado
E libertas tua alma.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Vida

Gosto das sensações
e por isso gosto da vida.

Às vezes, é puro enjoo...
vômito quente subindo pela garganta..
...golfo...
Gosto de senti-la assim...impetuosa
líquida.

Outras, é pura gravidez.
Sinto-me grávido da vida...
...de vida...
Quase sempre gravidez de estupro..
Gestação contemporânea...
Feto pré-maturo
Homem pré-histórico

Há momentos que a vida é soneto.
Confesso...
Gosto dela primeira fase modernista.

Há momentos que a vida é puro deboche.
E como debocha de mim...
...desde o meu nascimento no bairro Tijuca.
Sente prazer nisso.
Mas é esse deboche que me esvazia de mim mesmo
Que me faz rir de mim mesmo
Que me faz chorar de mim mesmo
Que me fazer querer mais...VIDA.

Sou demais vida para me importar com seu deboche
Mesmo quando seu deboche é mostrar a mim atráves do outro
Sei que o outro também sou eu
Já aprendi isso
Por isso tento não feri-lo.

Eu e a vida temos uma relação aberta
Monogâmica, mas aberta...
...aliás, escancarada...
Ela é demais eu
Sou demais ela
Gosto dos nossos momentos de libertinagem
Pois sabemos que iremos voltar um para o outro.

Ela...
Fez-me.
Eu...
Faço-a.
Ela...
Dá-me
Eu...
Tranformo
Ela...
Pátria
Eu...
Cidadão.
Ela...
Chuva
Eu...
Roupa estentida no varal.
Ela...
Corpo.
Eu...
Espírito.
Ela...
Ela.
EU...
Nós.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Itinerário

No meio do caminho tinha uma mulher
Tinha uma mulher no meio do caminho
Corpo vestido
Alma desnuda
Corpo quente
Alma fria
Deus, o que era aquela mulher no meio do caminho?

Tem uma poça de sangue no meio do caminho
No meio do caminho tem uma poça de sangue
Sem corpo
Sem alma
De repente um frio na nuca


E amanhã?
Será que haverá, ao menos, caminho?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ponto de vista...

Chamaram-me, uma vez, grosseiro
Na verdade...
...várias vezes...
Perguntei-lhes - e a vida o que é?
Pura materialização da grosseria.

Nascemos de forma grosseira
Sobrevivemos grosseiramente
E a morte?
Algo mais grosseiro que ela?
Faz-nos, de certa forma,
morrer um pouco...ou completamente
Na ausência-presença de alguém querido.

Sim, respondi-lhes...
O mais grosseiro vem Dele
Afinal, fez-me dialogar...
Encontrar-lhes.

Grosseiro eu?
É uma questão de ponto de vista.

O prato

Foram quinze anos...acho eu. Sempre tive uma relação estranha com o tempo. Nem amigo, nem inimigo...apenas um respeito mútuo. E também nunca me relacionei de maneira amistosa com o virtual. Gosto do toque, olho no olho...gente de carne e alma...mais alma que carne. Entranto, insistiram. E não posso negar a sedução do virtual. Não posso negar sua existência na inexistência do que é dito, das inverdades proferidas - ânsia de vômito. O incômodo ácido que sobe à garganta. O virtual é ácido corrosivo. Corrompe até as almas mais impuras.
Após quinze anos de casamento, estava eu livre. Liberdade ainda aprisionada. Às vezes, a liberdade se torna uma inacessível prisão. Pássaro sem asas. Gaiola cujas grades são pensamentos. Luto com eles. Mas sempre me convencem, pois seus argumentos são leis de um código impossível de apagar. Leis alicerçadas no tempo de um tempo em que o tempo tinha tempo...o tempo hoje é o amanhã.
Reparei que havia várias salas. Um universo de salas. Salas para todos os gostos, e tipos, e vidas, e comportamentos. Escolhi uma, aleatoriamente. Uma. Acho que, de certa forma, foi a forma de representar a minha única experiência. Uma.
Nome? Idade? Onde mora? A fim de quê? Sexo? Amizade? Trabalha? Tem carro? Tem cam? Tem local? Tem? Tem? Tem? Tem? Tem? Tem? Tem? Tem? Não era, ali, necessário ser. Pra quê? Eu tinha tudo o que queriam que eu tivesse. Eu tinha...eu tenho! Tudo muito fácil, pensei. Uma força tamanha e grandiosa invadiu-me. Eu tenho! Ser? Que nada! Ter é o grande foco.O grande momento! E eu tenho...o desejo. Afinal, sou homem e não posso esperar - sempre os amigos dizendo isso. Todos já tinham experimentado. E como festejaram o dia de minha separação! Festejaram como ao nascimento de um novo ser que acaba de chegar ao mundo do ter.
Marquei o encontro.
Marquei próximo...muito próximo de meu apartamento. Disseram-me depois que tinha cometido erro grave. Mas não podia me afastar tanto de mim assim de uma hora pra outra.
Até o encontro não nos telefonamos, não tivemos contato algum. Apenas suas palavras...tentava decifrar sua semântica. Sintaticamente, conheci-a. Hipébato. Era um jogo excitante cuja vitória era o principal objetivo. Empatar jamais! Pior que a perda, o empate.
E lá estava ela. Exatamente como descreveu nos papos que tivemos na sala. Eu demorei exatamente uma hora para escolher a roupa. Fiquei entre um terno e algo mais esportivo. Escolhi o esportivo. Era domingo.
Estava ao lado do restaurante. Atravessando a rua senti seu olhar passeando pelo meu corpo. Um olhar policial, mas corrompido. Nem deu tempo de pensar como seria o cumprimento. Me deu um beijo no rosto, um abraço apertado e brincou com a saliência da minha camisa pólo na região abdominal. Vento maldito, pensei. Fiquei rubro.
Sentamo-nos.
Como jogava o cabelo! Era de uma sensualidade! Gestos largos. Às vezes meio sorriso, às vezes sorriso pleno. Não havia uniformidade na sua pessoa. Era um mosaico aquela mulher. Não me assustava aquela situação. Eu precisava daquilo. O momento era aquele. Com certeza - gol!
Conversamos sobre tudo, num diálogo fragmentado pelas olhadas entre um botão e outro da minha camisa. Sim, bebemos. Eu, cerveja. Ela, conhaque. Estranhei. Todavia, era esse o verbo de que eu necessitava.
O restaurane era o melhor das redondezas. Disseram-me depois que pequei nisso também. Preferimos o self service. Na verdade, escolha minha. Gostei disso.
Olhei tudo o que tinha. E comecei a colocar no prato tudo o que eu não estava acostumado a comer no meu dia a dia. Coloquei no prato apenas o que nunca tinha experimentado. A ocasião pedia. Sentia-me cada vez mais solto e, pela vez primeira, com uma vontade alucinógena de sair logo daquele local. O cheiro da comida me dava mais fome. E que fome!
Sentei-me. Reparei que ela foi direto num determinado ponto do restaurante. Não cheguei até lá. E ficou um bom tempo olhando tudo. E eu também olhando tudo! Vi que perguntou algo a um dos garçons. Logo depois, todo solícito, veio ele com uma bandeja e se aproximou dela. Ela sorriu, agradeceu e colocou no prato o tão desejado alimento.
Detesto comer sem farinha - disse - assim que se sentou. Meu olhar que até então estava paralisado no seu se direcionou para o prato. Nunca pensei que um prato pudesse dizer tanto de uma pessoa. Nunca pensei que um prato pudesse decretar o fim de um pretencioso início. Nunca pensei que ele - o prato - fosse dialogar comigo. Disse-me sem dó nem piedade para que todos ouvissem que tudo era um grande espetáculo da vida e que a cortina tinha acabado de fechar. Mostrou-me que tudo não passava de uma bela maquiagem profissinal. Disse-me tudo isso através dos alimentos: feijão, arroz, farinha e uma linguiça inteira.
Como um prato de comida pode dizer tanto da alma humana? Como?
Não...não comi...nem ela e nem a comida. Não mais arroz e feijão na minha vida. Muito menos regados à farofa e linguiça.
A desculpa que dei para ir embora não lembro. Lembro que ela ficou, pois disse que estava com muita fome.Eu também...mas de vida regada à desejo e experimentação.
Perguntou apenas se deixaria a conta paga e me pediu um trocado para ir embora. Também não lembro quanto deixei de dinheiro. Não me importava. Eu tinha.
Voltei para o meu apartamento e resolvi subir pelas escadas.
Tirei a roupa assim que entrei.
Tomei um banho. Demorei.
Quando me deitei vi que o terno estava ainda sobre a cama ao meu lado. Joquei-o no chão. Não queria mais ninguém comigo. Não naquele momento.
Na minha frente o computador.
Sabia que ele estava rindo de mim. Ele era todo ironia. Senti isso desde o dia em que o comprei. Conhecia mais do mundo.
Percebi a falta de luz e calor. O pôr do sol anunciando fim do dia.
Lembrei-me da mulher. Era uma mulher de carne e osso.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Incompreendidos

Há escritos os quais o homem nunca os compreenderá
Nunca os terá em mãos
Decifrá-los?
Impossível...
Nunca os produzirá.

Cada alma possui um registro
Um chip
Um código
Almas são identificadas
Todavia
Quase nunca compreendidas

Decifrar almas é o mesmo que tentar...
Tentar
......tentar
............tentar
..................tentar
........................decifrar o fundo do oceano,

Mer
gu
lho

Sem escafandro

Até se chega
Mas como as almas
O fundo do oceano é inconstante
Na constante mutação
Até ele necessita disso

Quantas almas do sobre-asfalto...
...mantidas em seu universo bolha
...bolha de ferida.

Morte?...sim...sempre
Morremos na descoberta ou na tentativa dela
Conhecer é morrer
Morro diariamente
Meu corpo sete vidas
Minh'alma hipérbole

Teorias são curativos para corpos
Corpos já esvaziados
...sem...

Tolas teorias
Tolos teóricos
Não entendem nada de alma.

sábado, 29 de maio de 2010

Nós

Culpo-a por esses escritos
Não
Não os queria assim
Registro

Culpo-a por ter escolhido a mim
Corpo cristão
Resguardado
Chão
Armazém do pecado

Culpo-a por assim ser tão
Nunca pede nada
É sem hora - madrugada

Toma-me o tempo
Tempo que não é o meu tempo
Meu tempo - ontem
O dela - quando

Gosto do infinitivo
Sou particípio
Ela gerúndio
Subjuntivo
Imperativo

Ah, se ao menos fosse judia
Minha alma, eu acredito
Você , também, acredita...
Todavia
Enterneço-me por ser assim
Minha
Não direi sopro, o que causa em mim
Tudo bem
Você é quem manda
Ignição do meu dia
Diariamente
Chave mestra

Sim, também é guerra
Nem sempre concórdia
Quase sempre discórdia
Respeito
Respeita

Você - oceano - maresia
Eu - rio, riacho, lago - doce
Nós - poesia.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pensamento branco

Gosto do silêncio
Gosto do vazio dele
do incômodo de sua presença
Assim como gosto da folha de papel
em branco
Diz-me tanto
Cabe tanto que
é a sua maior expressão
Encanta-me o impossível
Não a possibilidade do impossível
O imprevisível alicerça meu pensamento
Dá-lhe sopro
Dá-me vida na ausência dela

Domingo de Páscoa.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Escritos

Escrevo, sobretudo, por impulso
Alma inquieta
Sou todo impulso
Acordo na madrugada
Invado seu silêncio
Desafio-a sempre
Perco
Palavras - efemeridade semântica
Acorrentadas na sintaxe
Perdem-se no tempo
Mudam-se com o tempo
Esquecidas algumas

Vingo-me
Noutra esfera
Descontrole dela

Nada do que escrevo é verdade
Nada do que escrevo é espontâneo
Nada do que escrevo é necessário
Nada do que escrevo é límpido

Por que, então, escrevo?
Cretinos!
Acham que já não me perguntei...

Aniversário

Primeiro embrulho: fralda
Segundo: nebulizador
Terceiro: travesseiro de plumas de ganso
Aparelho de pressão
Remédio para pressão
Complemento alimentar
Colchão casca de ovo...
...inexpressão!

Olhou em redor...
Expectativa!
Meio sorriso...
Alegria externa aparente
Felicidade alheia expressa.

Mirou o horizonte
Sentiu, pela vez primeira, saudade...
Na verdade...desejo...
Melhor...esperança.
Era o último embrulho...
...pesava...
...soro fisiológico.

Utilidades para a inutilidade, pensou.

Perguntou-se...
Onde estavam, meu Deus, os potes?
...e os panos de prato?
Nunca os quis tanto...
Nunca foram tão necessários...
...todavia...
Não os pertenciam...mais.

domingo, 16 de maio de 2010

Minha alma

Por que amanheço ao nascer sol?
Por que anoiteço ao pôr-do-sol?
Por que ele - o meu relógio orgânico?
Meu corpo - funcionário dele.

Minha alma - eclipse
autônoma
ar
tabela periódica
carnaval...na rua
eunuco

Minha alma
Minh'alma
Mina
Explosão.

Poesia

Não a poemas
Estrutura
Forma
Métrica
Branco
Livre
Decassílabo...
...corrente.

Sim a poesias
Papel em branco...
...e quanto não há de poesia nele?
E quantas poesias não ficarão presas nele?
Papel em branco
Sinonímia
Poesia liberta.

domingo, 9 de maio de 2010

De volta ao começo.

Acordei cedo para os preparativos. Afinal, não é todo dia que se comemora aniversário. Assim que cruzei seu quarto percebi que o olhar era de busca, procurando algo que se perdeu em algum momento de sua vida, mas que acabava de encontrar naquele instante: eu. Todas as noites ela sentia essa perda...eu também. Era mais que necessário esse afastamento. Ela precisava disso. Eu necessitava.
Não dizia uma só palavra, mas para que palavras quando se tem o olhar. E que olhar!!! Precisava ser rocha nessas horas porque qualquer descuido um maremoto tomaria conta dos meus olhos. Quando miro todos os dias,ela, ali, parada... como a alegria, o amor, o medo...tudo isso transimito pelo seu olhar era tão nítido pra mim. Comunicáva-mos sempre pelo olhar. Eu sabia de suas inquietações, seus desejos seu mal humor. Todavia, seu olhar hoje era de pura expectativa. Parecido quando estamos sentados na plateia de um espetáculo e ainda não sabemos que universo irá nos surpreender quando as cortinas se abrirem. Mas ela sabia...ela sabia que eu nunca iria me esquecer do seu dia.
Assim que cruzei a porta, dei-lhe um beijo na testa e seus bracinhos já iam, como os gestos de um maestro, pedindo um abraço. Aquele abraço era o meu regogizo. Minha fonte de vida. Todas as manhãs, como o ritual do sol. Mas sempre único.
Peguei-a no braço para o banho. E como pesava. A cada dia parecia mais pesada... só no corpo. Alma ultraleve. Alma, de certa forma, já liberta num corpo em estado de letramento. Não há tempo marcado para o aprendizado. Tolas as teorias. Idiotas os teóricos. Nada entendem de alma.
E o banho foi especial, pois o dia era especial. Coloquei fralda limpa. Separei a roupa mais linda para a comemoração. E ficou! Linda! Coloquei-a sentadinha e em seu redor várias almofadas para alicerçar seu corpo...uma verdadeira ilha. Ilhada.
Sabia que ela não gostava de ficar com outras pessoas, mesmo que conhecidas. Estranhava, chorava...queria-me sempre. Queria-me de maneira grave, assim como a criança ao leite materno. Seu sustento. Vida. E para isso usava de algumas artimanhas. Eu até gostava disso. Queria-me como a praia ao sol num dia de verão e céu sem nuvens. Entretanto, naquele momento era necessário. Eu precivasa concluir os preparativos para a festa.
Não demorei. Comprei o bolo de que ela mais gostava. Chocolate. Bolo de chocolate com calda de chocolate e recheio de chocolate...tudo meio amargo. Só isso de amargo que ela gostava. Era sempre doce, mesmo quando não era. E não podia esquecer da vela...ficava muito chateada se não houvesse vela. Era como acender a vida. Comprei a vela de número dois.
Enfim, ficamos a sós. Coloquei uma bancada próxima a ela. Forrei com a toalha mais linda...cheia de flores. A primavera sempre a encantou. Retirei a fatia de bolo de dentro da embalagem.Uma fatia de bolo. Coloquei as velas no lugar, o chapeuzinho com elástico em mim e nela. Apaguei as luzes e cantamos juntos o parabéns. Havia certa dificuldade em aproximar as mãos, mas em alguns casos na vida a tentativa já é uma grande realização. E ela era a pura realização da vida... na minha vida.
Como era costume seu, apagou primeiro a vela de número menor, a de número dois, e por último a vela de número oito. Prometeu no dia em que completou cinquenta anos que a partir daquela data iria começar sempre pela vela de número menor. E há algum tempo esse gesto passou a ser o maior sentido da sua vida.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Construção

Deu-lhe, o primeiro, dois filhos e um apartamento.
O segundo, o retorno de um dos filhos e uma pensão.
O terceiro, compras de supermercado, a contrução do terraço na casa nova...
...um condicionador de ar...
...uma televisão.

O amor?
Nunca quis conhecer
Não lhe dava nada...tirava-lhe...

Ele - o amor - alicerça almas

Cimento, areia, pedras e tijolos
Estrutura dela
Corpo salvo
Alma - sentinela...
...armada.


05/05/2010

Diálogo contemporâneo

Primeira tentativa - Oi! Poxa, agora não posso falar...estou numa reunião...ligo em dez minutos.
Não ligou!

Segunda tentativa - "Sua chamada será encaminhada para a caixa postal de..."
Desliguei!

Terceira tentativa - Fala, maluco..blz? Tô no trampo...o bagulho tá doido aqui...Bora tomar uns goró na night...tem umas mina pra gente...
A ligação caiu, quer dizer...

Quarta tentativa - Fala paixão da minha vida! Tô indo pro cursinho de inglês...deixa uma mensagem no orkut que eu respondo, tá! Ah...comenta minhas fotos...(risos)
Só resondi: _ Ok!

Quinta tentativa - Irmão, a bateria do meu celular tá morrendo e ainda preciso marcar a manicure...assim que chegar em casa eu retorno. Saudade!
Cansei de esperar...

Sexta tentativa - Meu filho, estava cochilando...você não sabe que essa é a hora da minha soneca da tarde? Mas fala...ligou por quê? Mamãe te ama, tá!
Sem comentários...

Sétima tentativa - Oi, migo, que bom que você ligou! Tô mal! Tá tudo acabado! Acho que vou morrer...ou matar aquele infeliz...ele me traiu com minha melhor amiga...tô indo pro terapeuta! Algum problema? Posso ajudar?
Após um estado de total ausência durante o monólogo, disse que tudo ficaria bem...

Sentei-me na rede que fica na varanda da minha casa. Olhei a lua - pairava - cheia, exuberante na sua solitude acompanhada de estrelas, cada uma lutando por um espaço ao seu redor. Senti-me tão próximo dela. Todavia, lembrei-me que pelo menos ela era, ainda, palco de tantas histórias cotidianas...não podia...essa proximidade não pertencia...não cabia. Fechei os olhos na tentativa de encontrar...encontrar-me naquela luz baça. Percebi, assim que meus olhos acordaram...percebi que as nuvens brincavam de pique-esconde com a lua. Não mais a vi...Levantei, fui até meu quarto,apaguei a luz, deitei, cerrei os olhos. Deixei o celular ao lado...quem sabe...Abracei o travesseiro. Senti no rosto uma leve brisa que desviava das grades da janela do meu quarto. Sorri! Não estava sozinho.


05/05/2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Processo

Meu eu-lírico insistia que eu escrevesse o amor...

...sobre o amor...

A cada tentativa da tinta no papel

Ele sussurava - o amor...o amor.

Era num tom grave

Urgente...

Urge o amor - dizia ele

E, certa vez, completou:

O amor entre os homens - urge o amor...

Perguntei-lhe:

Você é homossexual?

Respondeu-me nada!

Após 24 dias...

...uma carta bateu-me à porta.

DIzia:

Processo contra homofobia, constrangimento e danos morais.

Reclamante: Eu-lírico

E agora, ? (prefiro não citar nomes!)

Em quem confiar?


03/05/2010

Poema contemporâneo

Eu tenho

Tu não me interessa

Ele - Quem é?

Nós? O quê? Comprei com o meu suor...

Vós - os meus estão vivos

Eles que se danem!



E o você?

E você?

Você?

Cê?

?

À espera de...

Estou sempre à espera de...

Mas não do nascer do sol

previsível

cotidiano

burguês

pragmático

funcionário

estabilizado

quinhentista

sólito

parnasiano



Não!



Estou sempre à espera de...

Mas do sol à meia-noite

líquido

gasoso

surrealista

não-gozo

des

rio com terceira margem

verso colorido

avesso do bordado

Clarice Lispector perdoando Deus



Estou à espera de...

Sempre!

E, às vezes, é tão...

Inesperadamente.

Agora!

Criação...



02/05/2010

À noite

Espero-te como ao trem num dia de futebol

Com alma vestida de fevereiro

Com anseio de gestação...

...feto impaciente...

...aborto.



Decifra-me sempre

através de nuvens ou na ausência delas.



Mata-me diariamente

Dá-me sopro diariamente



Faz-me rir

Faz-me chorar...

...de rir.



Fragmenta-me a tua luz.

Atrai-me tua sombra-luz

que tudo pode...



Desconcerta-me o corpo

Desanuvia-me a alma.



02/05/2010

Alma

Tudo tão morto

Tudo tão sóbrio

Tudo parado

Ao meu lado ninguém



Ninguém ao meu lado

Tudo parado

Tudo tão sóbrio

Tudo tão morto



Falo de madrugada..

Frio na madrugada...

Frio da madrugada...

...congela...

...estado sólido...

...minha alma.



Ano: 2000

Respeite

Não me diga ao certo

O modo correto do sentir



Meu casulo é meu mundo

Me dispo de trapos

Respeito teu lado

Respeite meu sóbrio momento do nada



Ah...nada...

O medo de sentir o fim da estrada

Talvez sentir o amor não seja nada

Não valha nada

Mas talvez sim.



Em mim...

...fim.





Ano: 2000

Mudo

Te vejo tão longe

Te sinto distante

Mas se te quero perto...não sei.



Neste mesmo intante

Que tudo acontece

Outra vez se repete...o medo.



A carta me diz

O que eu sempre quis

E ativa o desejo...o beijo.



Mas tudo é tão tudo

Desnudo minha alma

Ainda assim...mudo.

Nada devo

A noite vem e me traz você

Traz meus sonhos

Traz respostas que eu não acredito

Não ouço, não ligo

Abrigo em meu coração a saudade

Verdade

Eu sempre quis

Desfiz

Metade



Estou cansado

Parado

Perdido

Indo

Vindo



Agora deitado na cama olhando o papel

Meus lábios soletram...

Meus lábios delatam...

Finjo que morro e nada pago

E nada devo ao meu coração.



27/06/2000

Nada talvez

Talvez eu te encontre

Talvez eu te ame

Talvez eu te chame

Talvez...



Talvez eu não saiba ou não queira viver você

Talvez é a certeza

É o meu momento

Talvez é o certo

Correto chamado

Meu trago

Insano, profano

Engano perfeito

No meu meu peito...

...nada.



27/06/2000