Entrada franca!

Entre...pode entrar!!!! Vasculhe tudo!!!!! Se pelo menos durante alguns segundos você parar em algum texto para tentar compreender algo, tentar desvendar o campo semântico de alguma palavra ou até mesmo se emocionar...terei cumprido o meu papel.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Estações da alma

Minha alma acordou
hoje
primavera
árcade
com vontade de Pasárgada.

Às vezes...
...outono
O outono é tão necessário...
...realismo...
para as almas.

Quando inverno...
...é tão parnasiana
estrutura sólida
com rimas
todavia
fabricadas.

Há momentos verão...
...e todos os movimentos cabem
interagem
entretanto
há, sim, o predomínio
dadaísta.

As almas são assim
Inconstantes
Essência trans
e quase sempre...
mar.

Minha alma é oceano...
...não tem borda.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fluxo


Nunca gostei do meio
Por isso não uso mesóclise
Tenho muito mais simpatia pela ênclise
Ela, como eu, está sempre à frente de...

Acho o meio um lugar de mal estar,
e quando advérbio é invariável
não muda
sem plural
nem feminino
assim como gente
gente é assim
nunca varia
e quando varia
ou usa de palavras igualitárias
ou é prolixa em seu discurso.

Agora...
...também tem o meio que é metade
E esse varia...
...meias palavras.
Mas sua variante é sempre metade
E eu também não possuo afeição pela metade
Ainda mais...
...se for metade da metade
Gente também é assim...
...metade não sabe o que quer...
...metade acha que sabe.
...e tem uma outra metade próclise.

E tem as sinonímias...
...que não pertencem à estrutura meio:
Morno,
ânsia de vômito...
mas semanticamente...
...são também meio.
Antes, o vômito...
...sou demasiado vômito.

Por isso...
...quando estiver no meio...
Pare!
Olhe o vão central - é meio!
E perceba que o meio também tem seu valor
Aliás, tudo tem seu valor - até gente tem!
Todavia...
...saiba que sair dele é necessário...
...e possível
E nem cogite o mar - ele não atura covardia
O mar é demasiado vida para isso
Apenas saia de cabeça erguida
Só não se esqueça de olhar para os lados e tudo que o circunda
Vai que vem um carro bem no meio de sua vida
Ela - a ponte -
Tem extremos e fluxo -
...assim como EU.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Somos iguais

Somos iguais
O que nos difere é a minha certeza...
...da tua incerteza.

Somos iguais
O que nos difere é o meu querer...
...bem mais egoísta que o teu.

Somos iguais
O que nos difere é o meu passo...
...menos rápido que o teu, mas intenso.

Somos iguais
O que nos difere é o meu tempo - o quando...
...o teu ainda muito ontem.

Somo iguais
O que nos difere é o medo...
...que eu não tenho.

Somos iguais
O que nos difere é o modo de abraçar a vida...
...o meu universal ...o teu - sistema feudal.

Somos iguais
O que nos difere é o cantar...
...o meu Maria Bethânia - o teu Gal Gosta.

Somos iguais
O que nos difere é a folha que cai...e me emociona
...e tua preocupação é com a árvore.

Somos iguais
O que nos difere é o caminho...
...o meu - estrada...o teu - encruzilhada.

Somos iguais
O que nos difere é o orgulho...
...você tem...eu o sou.

Somos iguais
O que nos difere é o teatro...
...o meu - dramático, o teu - pantomina.

Somos iguais
O que nos difere é o verbo...
...o teu - pretérito - presente e futuro...
...o meu - estado latente - criação.

Somos iguais
O que nos difere é o bordado...
...eu sou o avesso dele.

Somo iguais
Porque somos filhos de mãe e pai...
...apenas nisso...
 e nada mais!

domingo, 11 de julho de 2010

Entrevista

Sim...sou egocêntrico
E é por isso que escrevo
E é por isso que você está aqui.

Não...não penso no que escrevo
Apenas escrevo
Inspiração, talvez...

Não...não sei de onde vem
Aliás, sei...mas não digo
Perde o encanto e gosto de encantar.

Não...não insista.

Sim...têm.
Algumas gosto amargo
Outras agridoce
Umas tantas sem
Muitas mel...dessas não gosto
E nem pergunte o porquê...
Terei a sensação de que nunca leu meus textos.

Sim...já recebi várias..
Inspiram-me...
Divertem-me...
Mas nunca me irritam...
Se eu não escrevesse ou ninguém o fizesse...
O que seria deles?
Sou o sustento deles.

Não...
Aborreço-me pouco
Aliás, bem pouco
Ou quase nada.
Mas quando acontece...
...eu fumo.
É o meu modo de incomodar.

De nada.

Retirei o último cigarro do segundo maço
Fui até a sacada
Lancei fumaça no ar
E sorri
Pela vez primeira fui compreendido.

sábado, 10 de julho de 2010

Interessantíssimo


Não peço licença
Nunca
Invado os espaços
Preencho vazios
E sempre deixo perfume no ar.

Não aviso
Não mando recado
Apenas chego
E até com meu silêncio construo sintaxes.

Todos os lugares porque passei
Não são mais os mesmos.

Todas as ruas, avenidas, encruzilhadas
Rendem-se à minha total falta de interesse
E quanto menos demonstro meu interesse
Mais interessante sou
Sou interessantíssimo.

Sempre calo no momento que mais precisam
de minhas palavras.
E gosto dessa sensação de angústia...
...no outro.
Não percebem as frases que produzo com o olhar
Veem, mas não exergam.

Gosto desse jogo...

Meu modo é insinuar
Sou todo insinuação
Até quando escrevo.

Minha melhor e maior metáfora...
...é viver.

O retorno

Ando distante de mim
Não me vejo nos espelhos
Nem me encontro nas esquinas
Elas que tanto me acolheram.

Ando metade de mim
que quer
que deseja
que inflama
que enfeita o pensamento.

A outra metade de mim?
Acho que pediu demissão
Ou eu mesmo mandei embora
sem aviso prévio.
Justa causa.

Metade de mim,
onde quer que esteja
não se perca tanto
nem atrase o relógio
não atenda a chamadas desconhecidas
nem olhe para trás à procura do caminho
pois as pétalas deixadas
a chuva molhou
e ressequidas pelo sol
o vento levou para dentro de um poço sem molas.

Metade de mim,
retorno há,
e é sempre dor de parto natural.
Não darei explicações
Não pedirei explicações
Se voltar e estiver sangrando,
devido à selvageria do asfalto,
não entre pela janela,
nem toque a campanhia,
mas entre bem devagar.
E não sinta vergonha...não...isso não.
E nem orgulho.
Deixe o sangue escorrer...
Todos os curativos serão feitos dentro de sua casa,
que também, confesso eu, sangrou tua ausência.
Misture-os...
E seja feliz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Liberta

Minha alma habita meu corpo
Não pertence a ele
Não há pertencimento
quando se trata de almas
São alojadas em corpos
que muitas vezes não as comportam.

Os corpos, na verdade, são apenas...
...pura arrogância Dele
Ele necessita disso
Mostrar atráves da matéria
sua superioridade
sua criação
seus fantoches.

Por isso
Toda noite
Liberto-a
Morte na carne
Vida no espírito
Deixo-a livre para brincar
Minha alma brinca quando livre
Também só isso que sei
Não a interrogo nunca
Liberade é assim
Confiança
Ela sabe o momento exato do retorno
E confesso...
Atingirei a felicidade plena
Quando ela entender que minha concessão
é uma figura de linguagem
Neste dia
Ela não retornará.

Escândalo

Escandalizo
Minha maneira é essa
Desde o meu nascimento
Quando tentei me conter
No ventre de minha progenitora
Mas ele não me suportava mais
Cuspiu-me
E gargalhei
Foi meu modo de chegar neste desmundo

Gargalho sobretudo por gosto
Pelo gosto do desgosto alheio

E não sei lidar com limites
Sou terceira margem
O segundo sol
Noite quando ainda é dia
Não sou sujeito
Certas vezes predicado
E quase sempre índice de indeterminação

Escandalizo sempre
Nas entradas
Saídas
Permaneço
Sei que permaneço
Não em mim
Mas neles
Nas retinas incontidas do outro

Escandalizo
Escandalizo não pelo que sou
Escandalizo
Mas pelo que o outro deixou de ser.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sem culpa

Sou cretino
Minha cretinice é aguda
Encanta...
Mais do que meus olhos cor de mel
Mais que meu olhar anos 80.

Sou tão cretino...
Que respondo às perguntas não feitas.
E é através delas que alicerço meu discurso
Minha retórica.

Não disfarço
Maquiagem não é minha metáfora preferida.

Confesso que poucas vezes cara lavada
Apesar de gostar dela
Nem sempre a uso
Ocasionalmente, diante de mim mesmo.

Sorrio ou acendo um cigarro
Toda vez que sou cretino
Quando sorrio é um tipo de cretinice sarcástica
Quando cigarro é um tipo desejo.

Acabo fumando sempre pouco
Porque gosto mesmo é de interessar
E jogo com isso
E tudo tão pouco me interessa
E tudo tão pouco me desconcerta
Que fumo pouco
Às vezes, um maço em uma hora
Sim...é pouco pra mim
É pouco para a intensidade de minha cretinice.

Mas não me culpo por isso
E quando sinto
É como carregar comigo
Um oceano dentro de uma peneira

Não...não sinto culpa
Até porque...
Se há culpa
Vem de você
Que se deixa devorar por ela - minha cretinice
Alimentando-a
Alimento líquido.

Se há culpa
Que seja apenas sua
Que esteja com você
Vem de você
Que me olha
Apenas me olha
Mas não me enxerga.

Desafeto

Sou todo verdade
A materialização dela
Sua personificação
Sua concretude
Sua solidez
Seu corpo
Seu chão
Raiz.

Você é que me inventa!

Eu

Eu não caibo nos espaços
Tudo é pouco pra mim
Tudo é pequeno
Estreito
Sufoca.

Vivo de urgências
Quero tudo
Ao mesmo tempo
Agora.

Gosto dos extremos
Urge o amanhã
Na intensidade do hoje.

Meu desejo é substancialmente...
...líquido.

Minha alegria me cansa
Minha tristeza é festa
Meu tempo é sem tempo.

Às vezes verbo de ligação
Tantas outras intransitivo.

Minha natureza é selvagem
Moram dentro de mim vários bichos
Não mostro todos.

Sobrevivo comigo.

Acordo todas as manhãs
E não meu dou bom dia
Aturo o espelho
Ele que invade o meu dia
O meu ser
E me desnuda sem ao menos permissão.

Não concedo
Nem dou permissões
Se quer entrar
Não bata à porta
Não procure fechadura
Nem me chame
Entre
Deixe uma fresta
E me ama.

domingo, 4 de julho de 2010

Saudade

Trago dentro de mim a saudade
Saudade de um tempo ainda vindouro
Saudade de gente desconhecida
Saudade de mim amanhã
Saudade do próximo século.

A saudade que trago dentro de mim não me pertence
Apenas mora comigo
Apenas habita minha alma
Apenas compartilha comigo as minhas aflições.

Tenho saudade daquilo que ainda será projetado
Das crianças que nascerão
Da vida que não é essa.

Tenho saudade do que ainda não vivi
E ao mesmo tempo é tão intenso e presente.

Não sou pretérito
Nem presente
Nem futuro
Sou o tempo de um tempo que ainda germinará de alguma alma
inumana
De alguma alma tão inquieta quanto a minha
que deseja aquilo que ainda não tem vida
que ainda não foi criado.

Minha alma deseja o tempo
assim como eu desejo tê-la em todo e qualquer tempo.
Desejo-a...
...com desejo saudoso do tempo que iremos nos encontrar.

Não importa, minha alma,
o corpo,
a cor dos olhos,
ser macho,
ser fêmea.
Olharei-a através do espelho e reconhecerei...
...reconhecerei tua inquietude...
tua luz
teu cheiro
tua alegria
e a saudade findará
pois reconhecerei em você a vida que eu esperava
que me faltava.
Reconhecerei o meu tempo.

Espelho

Gosto de ti
Gosto de ti assim
sempre parecendo aquilo que não é,
escondendo-se através de seu olhar mármore,
mostrando-se entre gestos largos e obscenos.
És obsceno...
Tua natureza é obscena.

Admiro tua presença ausência,
tua alegria triste
tua arrogância quando chegas a todos os lugares,
teu incômodo perante a vida, ou do que se faz dela,
tua beleza escancarada,
teus colares egocêntricos,
teu sorriso escandaloso.
Escadalizas, sabia?

Amo tua vida morte,
teus jogos semânticos.

És...
hipérbole,
hipérbato,
sinestesia,
paradoxo,
barroco.

Desejo-te...
...e o meu desejo é ora árcade...
...ora clariciano.

Espero-te todas as noites...
Regressas sempre...
...a noite.
Deitas em tua cama,
Descansas teu corpo fatigado
E libertas tua alma.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Vida

Gosto das sensações
e por isso gosto da vida.

Às vezes, é puro enjoo...
vômito quente subindo pela garganta..
...golfo...
Gosto de senti-la assim...impetuosa
líquida.

Outras, é pura gravidez.
Sinto-me grávido da vida...
...de vida...
Quase sempre gravidez de estupro..
Gestação contemporânea...
Feto pré-maturo
Homem pré-histórico

Há momentos que a vida é soneto.
Confesso...
Gosto dela primeira fase modernista.

Há momentos que a vida é puro deboche.
E como debocha de mim...
...desde o meu nascimento no bairro Tijuca.
Sente prazer nisso.
Mas é esse deboche que me esvazia de mim mesmo
Que me faz rir de mim mesmo
Que me faz chorar de mim mesmo
Que me fazer querer mais...VIDA.

Sou demais vida para me importar com seu deboche
Mesmo quando seu deboche é mostrar a mim atráves do outro
Sei que o outro também sou eu
Já aprendi isso
Por isso tento não feri-lo.

Eu e a vida temos uma relação aberta
Monogâmica, mas aberta...
...aliás, escancarada...
Ela é demais eu
Sou demais ela
Gosto dos nossos momentos de libertinagem
Pois sabemos que iremos voltar um para o outro.

Ela...
Fez-me.
Eu...
Faço-a.
Ela...
Dá-me
Eu...
Tranformo
Ela...
Pátria
Eu...
Cidadão.
Ela...
Chuva
Eu...
Roupa estentida no varal.
Ela...
Corpo.
Eu...
Espírito.
Ela...
Ela.
EU...
Nós.